Durante todo o fim de semana (02) e (03), a Galeria Nova Ouvidor, mais conhecida como Buraco do Rato, no Setor Comercial Sul, ganhou uma nova cara. O Encontro de Grafite 2019 reuniu artistas do grafite e comunidade para colorir parte do centro urbano de Brasília, com o objetivo de ressignificar o espaço e valorizar o trabalho e a trajetória dos grafiteiros do Distrito Federal.
A iniciativa se deu em virtude do edital lançado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), que selecionou 60 artistas para realizarem intervenção artística de tema livre em uma área de até 10 m² do Buraco. Com investimento total de R$90 mil, cada artista selecionado recebeu R$ 1,5 mil. O encontro contou com a parceria do coletivo No Setor, do Comitê Permanente do Grafite e da Administração do Plano Piloto, que coordenaram os painéis de sensibilização e ofereceram os insumos para o trabalho dos artistas, como tintas em spray.
O projeto também foi contou com o recurso de emenda parlamentar do deputado Fábio Félix, no valor de R$90 mil, para intervenções no Buraco LGBTQI, garantindo uma área exclusivamente com intervenções artísticas de temas de inclusão social. Diversidade, amor sem distinção de gênero e combate à homofobia foram retratados de modos irreverentes pelos artistas.
Para valorizar a cultura urbana e a inclusão social proveniente do grafite, o encontro começou com preces ecumênicas, realizadas em conjunto com os artistas e o coletivo No Setor. Durante o ato, o grupo prestou uma homenagem póstuma para um morador em situação de rua que estava envolvido no projeto, Alessandro Werner. Recebidos por uma manhã ensolarada, os artistas começaram a colorir as paredes, com desenhos remetendo à cultura Hip hop, abordando temas sociais, com lições de cidadania.
Foram encontradas algumas frases de amor, resistência e desabafo escritas por pessoas em situação de rua, que há anos ocupam o espaço. Os grafiteiros conseguiram realizar adaptações nesses desenhos, para que as frases fizessem sentido no contexto do grafite realizado na parede. Alguns moradores foram habilitados a participar do projeto, auxiliando o trabalho dos grafiteiros e foram remunerados pela parceria do coletivo No Setor.
Para a coordenadora da iniciativa, a subsecretária de Economia Criativa da Secec, Érica Lewis, o Encontro de Grafite é uma grande oportunidade de estimular o empreendedorismo cultural e colocar os artistas de rua interagindo com os espaços públicos da cidade. “Este é um primeiro passo de um projeto muito maior de ressignificação do Setor Comercial Sul, que é um espaço bem representativo e vítima de um processo de degradação grande. Podemos fazer deste projeto um piloto de intervenções a partir de economia criativa e arte urbana”, relata.
De acordo com um dos idealizadores do coletivo No Setor, Ian Viana, a ação é uma demanda antiga dos grafiteiros, que sempre desejaram realizar intervenções artísticas no SCS. “Com a intervenção, a gente já sente a mudança estética e energética dentro do Buraco do Rato, um lugar que por anos foi a ‘cracolândia’ do Distrito Federal e agora tem tudo para ser um novo polo de cultura, lazer, diversidade e democracia para essa cidade que tem todo o potencial de se tornar a capital cultural do país”, conta.
O esforço em ressignificar o SCS por meio da cultura já está andamento há alguns anos, quando o local passou a receber festas e atividades ao ar livre aos finais de semana, principalmente, quando a maioria dos prédios e escritórios ficam fechados. Para uma das apoiadoras do projeto, a Administradora do Plano Piloto, Ilka Teodoro, o encontro de grafite marca o primeiro passo para uma nova lógica de uso do espaço. “Estamos empenhados em dar uma ocupação qualificada em todo o setor. Que a iniciativa irradie do Buraco do Rato para todo o Setor Comercial Sul”, celebra.
Após a intervenção artística, a previsão é que o espaço receba festas, feiras e eventos de economia criativa, envolvendo os projetos sociais com os cidadãos em situação de rua. A inauguração do “Novo Beco do Rato” está marcada para o próximo dia 15 de novembro. O espaço receberá a festa “Afete-se”, famosa no Distrito Federal pelas temáticas de acessibilidade, representatividade e inclusão social.
Lições de vida sensibilizam o trabalho dos artistas urbanos e auxiliares
Durante as pinturas realizadas no Buraco do Rato, artistas, moradores do espaço e agentes envolvidos puderam explicitar todas suas emoções. Sentimentos de inclusão social, diversidade, respeito, fraternidade e felicidade foram explorados ao máximo, em um momento alegre e cheio de arte.
Para os agentes envolvidos no trabalho, este fim de semana serviu para reavivar a esperança naqueles que se achavam esquecidos ou excluídos da sociedade. As frases de abandono escritas em várias das paredes foram substituídas por cores. As nuances, formas e pensamentos que compõem a cultura Hip Hop foram colocadas nas subidas e descidas das escadas do Buraco, chamando a atenção de adultos e crianças que passaram por lá.
Confira alguns depoimentos dos trabalhadores do encontro:
Um dos veteranos do grafite no Distrito Federal e membro do Comitê Permanente de Grafite, Carlos Astro, considera a oportunidade de grafitar dentro do Buraco do Rato um privilégio, em se tratando de um local com histórico marcado pelo crime e degradação. “Passei a minha juventude aqui dentro e fico emocionado pela importância que a Secretaria de Cultura e Economia Criativa está dando para intervenções deste tipo. Trabalhamos pelo fortalecimento dos valores da cultura Hip Hop, em que um dos principais deles é o resgate social. Este evento valoriza os pilares da arte urbana e age efetivamente no processo de reinserção social dos moradores de rua que estão nos auxiliando neste processo”, declara.
Participando do processo de acessibilidade da intervenção, o grafiteiro que assina como “Odrus” – surdo ao contrário -, grafitou o desenho de uma pantera negra, representando a força para lutar com resistência pelos próprios sonhos e ideais. Odrus declara estar realizando um grande sonho em contribuir com o cuidado de um local que estava há anos escuro e abandonado. “Estou muito admirado com a união e com o empenho que todos os grafiteiros estão tendo com esse projeto e com o estímulo que a arte atua para o resgate social dos moradores de rua”, comemora.
Para o morador do Buraco, Emerson Sales, trabalhar nas intervenções representa sua autoconfiança e esperança para sua mudança de vida. “Eu sou um rapaz muito agitado, mas sempre tive força de vontade para trabalhar e finalmente sair da rua. Agradeço aos que me habilitaram a participar desta iniciativa e que este projeto beneficie muito mais pessoas que querem uma nova chance, através do trabalho. O encontro trouxe luz e vida para este beco, estimulando a esperança para quem realmente deseja melhorar de vida e sair das ruas”, relata.
Para a artista plástica e grafiteira May Bucar, sua participação na intervenção tem o intuito de não só revitalizar o local, mas de dar visibilidade ao grafite feminino e das artistas mulheres como um todo. “Apesar de termos nomes muito importantes na cena da arte urbana feminina, ainda acho que o movimento das mulheres dentro da arte precisa ganhar mais força e proporção”, conta.
De acordo com um dos veteranos do grafite, com 27 anos de experiência, Fábio Pena, é uma honra colocar sua arte em um espaço localizado no coração de Brasília. “Esta revitalização é importante não só pela estética, mas pelo contexto social, auxiliando as pessoas em situação de vulnerabilidade e chamando atenção da população sobre o potencial do local e destas pessoas”, declara.
Uma das representantes do painel da diversidade, a grafiteira Kelly Amorim celebra o momento do encontro para chamar a atenção da sociedade para o incentivo e valorização da arte no Distrito Federal. “A representatividade aqui é muito presente, por ter muitas mulheres atuando a favor da diversidade e atuação feminina em todos os setores profissionais”, completa.
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Por Secretaria de Cultura e Economia Criativa
Fotos: Emanuelle Sena/ASCOM – Administração Regional do Plano Piloto
Administração Regional do Plano Piloto
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